1. |
Clarão
03:21
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«Clarão» (Miguel Torga)
O que isto é, viver!
Abrir os olhos, ver.
E ser o nevoeiro que se vê!
Nevoeiro ao nascer,
Nevoeiro ao morrer,
E um destino na mão que se não lê...
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2. |
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«Chove. Há Silêncio» (Fernando Pessoa)
Chove. Há silêncio, porque a mesma chuva
Não faz ruído senão com sossego.
Chove. O céu dorme. Quando a alma é viúva
Do que não sabe, o sentimento é cego.
Chove. Meu ser (quem sou) renego...
Tão calma é a chuva que se solta no ar
(Nem parece de nuvens) que parece
Que não é chuva, mas um sussurrar
Que de si mesmo, ao sussurrar, se esquece.
Chove. Nada apetece...
Não paira vento, não há céu que eu sinta.
Chove longínqua e indistintamente,
Como uma coisa certa que nos minta,
Como um grande desejo que nos mente.
Chove. Nada em mim sente...
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3. |
Ao Longe, Ao Luar
02:44
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«Ao Longe, ao Luar» (Fernando Pessoa)
Ao longe, ao luar,
No rio uma vela,
Serena a passar,
Que é que me revela?
Não sei, mas meu ser
Tornou-se-me estranho,
E eu sonho sem ver
Os sonhos que tenho.
Que angústia me enlaça?
Que amor não se explica?
É a vela que passa
Na noite que fica.
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4. |
Vigília
02:02
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«Vigilia» (Miguel Torga)
Altas horas da noite.
Acordado,
Rememoro o passado,
Analiso o presente
E adivinho o futuro.
Procuro,
Humanamente,
Dar sentido
Ao que fui,
Ao que sou
E ao que serei.
Mas a minha verdade
Não tem a claridade
Da razão.
É esta aflição
Continuada
Que no meu coração
Bate descompassada.
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5. |
Vazio
03:49
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«Vazio» (Nuno Ferreira)
Quando estou só
e te espero,
se não chegas
desespero...
Sinto um vazio,
não sou nada sem ti
Quando abro
o meu peito,
deixo à mostra
os defeitos...
Sinto um vazio,
não sou nada sem ti.
Eu não sou nada sem ti...
e vamos seguindo a estrada
até ao nada.
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6. |
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«Dorme, que a Vida é Nada!» (Fernando Pessoa)
Dorme, que a vida é nada!
Dorme, que tudo é vão!
Se alguém achou a estrada,
Achou-a em confusão,
Com a alma enganada.
Não há lugar nem dia
Para quem quer achar,
Nem paz nem alegria
Para quem, por amar,
Em quem ama confia.
Melhor entre onde os ramos
Tecem docéis sem ser
Ficar como ficamos,
Sem pensar nem querer,
Dando o que nunca damos.
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7. |
Nunca Olhar Para Trás
02:15
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«Nunca olhar para trás» (Nuno Ferreira)
Falam de mudança e de esperança,
num amanhã que se quer melhor.
São palavras vãs e ocas
que saem das suas bocas.
Já depois de eleitos, os defeitos
não tardam em se fazer notar,
Povo que não tem memória,
preso nas curvas da História.
Nem vale a pena tentar
se não estiver disposto a mudar.
P'ra matar o tempo
vagueio na noite sem rumo até me encontrar.
Teve um fim abrupto o corrupto,
às mãos da ira popular,
tudo não passou de um sonho,
do qual não quero acordar.
Vítima do excesso e do progresso
na sua marcha triunfal
que destrói vidas e sonhos,
tudo em prol do vil metal.
Nunca deixei de sentir
que o pior ainda está para vir.
P'ra fugir do medo
vou seguir estrada fora e nunca olhar para trás.
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Re-Verso Lisbon, Portugal
Re-Verso é o nome de um novo projecto musical que pretende capturar em canções alguma da magia das palavras de grandes
poetas da língua Portuguesa – Fernando Pessoa, Miguel Torga e Alexandre O’Neill, entre outros.
Com uma forte componente de intervenção social e numa procura constante de uma sonoridade fresca e original, na busca de expressar o espírito dos nossos tempos e agitar consciências.
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